Profissionais da área estimam um lucro superior a 250% com o serviço, que atende desde pequenos eventos até grandes festas de aniversário
Foi-se o tempo em que festas de aniversário eram decoradas apenas com aquele clássico arco de balões, todos do mesmo tamanho. O mercado trouxe novidades nos últimos anos e a arte com as bolas de látex evoluiu, atraindo empreendedores do mercado de festas que viram no serviço um grande potencial. Hoje, para aprender técnicas de arte com balões, profissionais investem até R$ 3.000 em cursos, seminários e imersões. O lucro com a produção de cenários pode ultrapassar os 250%.
De acordo com o Business Research, o mercado global de balões de festa atingiu US$ 1,73 bilhão em 2023 e deve atingir US$ 3,16 bilhões até 2032. A demanda por festas temáticas e o aumento do número de operações com balões seriam os dois principais impulsionadores do mercado.
A Associação Brasileira do Comércio de Artigos para Festas (Asbrafe) destaca que o mercado de balões apresenta forte crescimento em 2024, consolidando-se como um dos segmentos mais promissores do setor de decoração e eventos. “Se antes os balões eram associados principalmente a festas infantis, hoje atendem a eventos corporativos, casamentos e comemorações de todas as naturezas. Essa mudança reflete o aumento da variedade e a valorização da personalização, que têm se tornado os grandes diferenciais do mercado”, diz a entidade.
Paixão por balões
Há 30 anos, o mundo dos balões encantou o hoje ballon designer San Silva, 48 anos. O professor conheceu a arte com balão aos 18 anos e, nas suas próprias palavras, “não quis mais saber de outra coisa”. Segundo San, atualmente, quem trabalha nesse nicho pode vislumbrar um lucro superior a 250%.
Por meio da empresa Cromus, San Silva viaja o país ministrando cursos e ensinando as mais novas técnicas na área para empreendedores do ramo. E existem diversos tipos de capacitação, como pequenos cursos, seminários de um ou mais dias ou mesmo imersões. “Existem também convenções em que a pessoa passa vários dias só aprendendo e respirando balão. É um investimento de 1.500 a 3.000 reais”.
Os seminários são o foco da empresa Conecta, de Goiânia (GO), que promove, por ano, quatro eventos focados em ensinar a arte com balões. Desses, pelo menos três são básicos ou intermediários, voltados ao público que está entrando no mercado, e um é dedicado aos profissionais que já atuam na área e querem aprimorar as técnicas. Em média, são 45 alunos por seminário, já tendo chegado a 58.
A empresa surgiu em 2022 com o intuito de levar esse tipo de seminário para Goiânia, onde ainda era carente de treinamentos do tipo. De acordo com a sócia Silzian Rocha, no fim de 2021, ela estava em um treinamento em São Paulo, quando surgiu a ideia de unir a Tizy Balões, empresa que ela gere ao lado de Rodolpho Ornelas, com a Festoar, da Rebeca Bucar e do Pedro Rafael.
Até o momento, os quatro sócios já promoveram 11 seminários, com mais uma edição prevista para fevereiro de 2025. “Desde então, nós estamos vendo vidas transformadas. Nosso seminário vai muito além de técnicas, nós tentamos realmente fazer com que as pessoas saiam dali com um sonho”, diz Silzian. “Já tivemos diversos depoimentos de pessoas falando que ali foi um divisor de águas”, comenta.
“Nós ensinamos tanto quem quer trabalhar com festa, quanto quem quer fazer arranjos simples. Temos, por exemplo, cursos pequenos com foco em gás hélio e presentes”, conta. Por lá, o investimento para participar dos seminários varia de R$ 590 a R$ 1.300, de acordo com o nível (básico, intermediário ou avançado).
Investimento no ramo
Quem entrou nesse ramo e viu potencial para crescer foi Giulia Rolim, 30 anos. O negócio começou em 2019, dois anos depois de seus pais fecharem o negócio da família que funcionou por 35 anos: uma loja de festas. A empresária conta que, no começo, muita gente não “botou fé” no negócio, mas ela viu muito potencial. Formada em administração, ela buscou aprendizado na área, estudou e botou os planos em prática. “Eu fui para São Paulo, em uma feira que é muito conhecida no ramo de festas, conhecer mais um pouco do mercado ver o que estava em alta”, conta.
Giulia trouxe os aprendizados para BH e abriu a Sonhar Balões, no bairro União, região Nordeste. Segundo ela, a empresa foi aberta em novembro e, em dezembro, já faturou R$ 50 mil. “Deu muito certo!”, diz. Hoje ela fatura só com balões, em média, R$ 70 mil por mês. “Graças a Deus, hoje eu sustento a minha casa, minha família, meus pais. É o meu negócio, a minha vida”, declara.
A empreendedora Danielle Laureano de Moura, 44 anos, também investiu nesse nicho e hoje, ao lado do marido, é proprietária da empresa Balões Fest BH, no bairro Letícia, região Norte de BH. Há 8 anos nesse mercado, Danielle mudou completamente de ramo para investir nos balões. “Eu era supervisora de merchandising em supermercado”, revela.
Ela conta que a irmã ministra aulas de arte com balão há muitos anos e sempre insistiu para que ela e o marido investissem nesse ramo. No entanto, Danielle tinha certa resistência com o negócio e não se via atuando na área. Até que, um dia, ela foi desligada do emprego e, após o marido comprar a ideia da cunhada, acabou cedendo e abrindo a empresa. “A gente criou um Facebook na época. E começamos a ter muitos pedidos”, lembra. O negócio deu muito certo e Danielle passou a investir mais.
Hoje, quem a atualiza de todas as novas técnicas do mercado é a irmã. E uma das técnicas que ela aprendeu e tem tido muita saída é o arco de balão orgânico - arco feito de balões de tamanhos diferentes e que ocupa o espaço sem forma definida, geralmente usado para cenários de festas. De acordo com o professor San, esses balões de tamanhos diferentes começaram a ganhar mercado há cerca de 6 anos.
San lembra que os arcos orgânicos são mais fáceis e mais rápidos de produzir que as artes com balões 260, por exemplo. A arte com esses balões, inclusive, teve uma queda ao longo dos anos. Os balões 260 são aqueles compridos, também chamados de macarrão. Há muitos anos, eles eram muito utilizados para criar formatos de cachorrinho, espadas, ursinhos etc, e os twisters (profissionais que dominam essa técnica) eram “febre” nas festas de aniversário. San lembra que, apesar de ser um trabalho muito bonito e louvável, essa arte perdeu espaço no mercado. “Essa arte deixou de ser um bom negócio, porque gasta muito tempo e dinheiro, e o cliente não valoriza tanto”, diz.
Gestão e aprendizado são importantes nesse mercado
Apesar de ser um mercado com grande potencial e que pode abrir portas para muitos empreendedores, é também um mercado que exige uma gestão muito bem feita para ter lucro e muito conhecimento para progredir. San Silva lembra que muitas pessoas que não buscam especialização e conhecimento na área, mesmo que sejam cursos básicos, acabam “metendo os pés pelas mãos”.
“Quando você decide trabalhar com balões e não se especializa, você sofre muito. O fato de fazer um curso facilita sua vida, você aprende com quem tem bagagem”, diz. Ele explica que, com esses cursos, o profissional pode inclusive aprender a gerir o próprio tempo, o que, no fim, também é dinheiro. “A pessoa que não tem especialização vai gastar três ou quatro horas para fazer um simples arco orgânico, se não tiver técnica. Coisa que faria em muito menos tempo com técnica”, afirma.
De acordo com San, o investimento inicial para abrir um negócio de arte com balões, contando com pelo menos um curso na área e materiais, como inflador elétrico, é de R$ 5.000 a R$ 6.000, para começar em casa. “É um investimento relativamente baixo se for pensar no retorno que pode dar”, conclui. Segundo ele, tem empresa que fatura mais de R$ 1 milhão por ano com decoração.
Gestão é também o foco de Giulia Rolim. Além de trabalhar com as vendas de artes com balões, ela também ensina como gerir os negócios nessa área. “É uma consultoria baseada em negócios e gestão. Porque a gente tem visto tem muita gente ensinando a fazer balão, trabalhar com balão, mas tem muito pouca gente ensinando a fazer a gestão de uma loja de balões”, diz.
“Recentemente, uma aluna de Sete Lagoas veio aqui na loja, passou dois dias fazendo essa consultoria. E todo dia ela me agradece, manda mensagem, fala o tanto que abriu a mente dela. Ela não tinha catálogo no WhatsApp, não tinha uma planilha, não sabia que existiam sistemas fáceis de mexer”, exemplifica.
Danielle conta que também chegou a auxiliar pessoas que queriam investir no ramo. “Nós ajudamos muitas pessoas no interior a fazer isso. Várias pessoas nos procuraram”, conta. Para ela, é um ramo que tem espaço para todo mundo que queira entrar. “Eu acho que é um trabalho muito gostoso, não é todo dia a mesma coisa, cada dia uma coisa nova. Então, eu acho que, para quem tem vontade, vale a pena investir”, incentiva.
Balões personalizados tiveram um “boom” na pandemia
Durante a pandemia da Covid-19, com a impossibilidade de sair de casa e, principalmente, fazer festas, os balões personalizados ganharam espaço. Trata-se de um tipo de arranjo que se faz com balões de tamanhos diferentes e decorações variadas, muitas vezes com impressões de frases ou nomes, feito de acordo com o tema e a ocasião.
“Como as pessoas não podiam sair de casa, elas compravam pequenos arranjos para fazer algo em casa mesmo. E estourou de vender! As lojas que já vendiam balão estavam com as portas fechadas, mas a produção de balão estava a todo vapor”, lembra San Silva.
“As pessoas não podiam fazer visitas, mas os balões podiam”, sintetiza Daniella, que também teve muita procura por esse tipo de arranjo no período.
Giulia também viu um crescimento nos pedidos de balões personalizados durante a pandemia e, hoje, são produtos que têm muita procura. “Os mais procurados pelos clientes são os balões personalizados. Eu tive a sorte grande de casar com um ilustrador, então, meu marido faz os desenhos dos balões, de forma bem personalizada mesmo. Nenhum balão fica igual ao outro”, conta.
O preço de balões personalizados varia de acordo com o tamanho e a personalização que o cliente pede (isso pode incluir glitter, formatos diferentes, artes, gás hélio, fitas, balões de números, metalizado, fosco etc). Os bouquets unitários, que podem ser pequenos arranjos de mesa ou mesmo torres de gás hélio, podem variar de R$ 20 a R$ 500, em média.
Curiosidade: a capacitação em arte com balões é algo tão levado a sério que existe, inclusive, certificação na área. A Sempertex - Cromus Ballons, por exemplo, oferece a MBP, a certificação Master Ballon Professional, que o aluno adquire após fazer uma prova.
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