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Páscoa 2024: cacau com Indicação Geográfica movimenta mercado de chocolates especiais

Amêndoas de alta qualidade, reputação e tradição no cultivo e manejo ganham preferência de chocolateiros e pequenos negócios do setor.


Fonte: Banco de imagens Canva

Os consumidores brasileiros, que têm um nível de exigência cada dia maior, estão transformando as celebrações da Páscoa em uma oportunidade especial para os produtores de chocolate produzidos a partir do cacau com Indicação Geográfica (IG). O alto padrão de qualidade, de reputação e de tradição no cultivo das amêndoas, garantido pelo selo de Indicação de Procedência concedido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), tem conquistado a preferência do crescente mercado de chocolates de origem, também chamados de bean to bar. Esse conceito se traduz na preocupação com boas práticas desde o cultivo do cacau até a comercialização do chocolate em barra.


Em uma chácara localizada no Gama (DF), a 40 minutos do centro de Brasília, a empreendedora rural Marlene do Nascimento, dona da Cacau Candango, prepara-se para atender à procura por seus chocolates na Páscoa. Com um cultivo de cacau próprio em fase de testes, ela elabora seus produtos com matéria-prima da IG Sul da Bahia, de uma das propriedades que estão dentro do território de abrangência da IG.


A produtora conta que percorreu fazendas da famosa rota do cacau no sul da Bahia e Linhares no Espírito Santo para conhecer de perto todo o processo de cultivo e verificar as condições de trabalho no local, como também os cuidados com a preservação do meio ambiente. “O cacau de IG casa muito bem com o propósito da nossa marca que é estimular o consumo consciente de um produto saudável, produzido com responsabilidade e valorização do produtor”, destaca.


Além das vender pela internet, Marlene participa de feiras e fornece chocolates para duas lojas em Brasília. Ela também faz parte da Associação BeanToBar Brasil, por meio da qual participa de eventos e acompanha a evolução desse novo mercado. “Queremos mostrar para o consumidor que é possível comer chocolate sem culpa, pois existe um produto mais saudável, elaborado de forma controlada e responsável”, complementa.


Para a analista de inovação do Sebrae Hulda Giesbrecht, o registro de produtos com Indicação Geográfica é um dos melhores caminhos para mudar a realidade dos pequenos produtores rurais em diferentes regiões do país.


A mentalidade vem mudando muito rapidamente. Os pequenos produtores vêm descobrindo cada vez mais a importância de aliar tradição e inovação. Não é apenas uma questão de organização territorial, mas uma forma do produtor participar ativamente da proteção da sua identidade e agregar valor ao seu produto. Hulda Giesbrecht, analista de inovação do Sebrae.

Tradição secular

É a Fazenda Alegrias, pioneira na cultura cacaueira há mais de 200 anos, que fornece amêndoas especiais para Marlene. Depois de passar por um processo cuidadoso de cultivo e manejo, o cacau é enviado para o DF onde a chocolateira mantém o controle da qualidade para produzir seus produtos. Entre os mais vendidos estão o chocolate 70% e o de 38% com especiarias.


De acordo com o produtor da fazenda Antônio Lavigne, o cacau atende todas as especificações exigidas pela especificação técnica da IG, dentre elas, está o cumprimento das normas trabalhistas e ambientais, possuir mais de 65% das amêndoas fermentadas e realizar o sistema de plantio “cabruca”, quando o cacau é plantado sob a sombra das árvores da Mata Atlântica.

Ele destaca que a venda do cacau de IG vem crescendo gradativamente. No caso dele, em torno de 30% da produção é voltada especialmente para as amêndoas seladas. “É um produto que não atrai a indústria, mas é muito procurado por pequenos negócios, principalmente dos chocolateiros que fazem parte do movimento bean to bar”, esclarece.


Segundo Lavigne, é comum receber a visita desses profissionais na propriedade, pois o relacionamento próximo entre o produtor e fornecedor faz a diferença. Além da venda das amêndoas, a Fazenda Alegrias também investiu em sua própria marca de chocolates finos, a Senô, para ampliar o mercado.


“Os chocolateiros estão comprando mais do que um simples cacau. São amêndoas que carregam a história da cultura cacaueira e passam por um processo de cultivo com cuidados também na pós-colheita com provas para verificação de sanidade mínima e de fermentação adequada que influenciam no aroma e no sabor”, explica.


Entenda

Atualmente o Brasil possui quatro IGs de cacau reconhecidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão responsável por emitir o registro que vai garantir a origem, reputação e qualidade de produtos e serviços em todo o território nacional. São elas: IG Sul da Bahia (BA), IG Linhares (ES), IG Tomé-Açu (PA) e IG Rondônia (RO).


As requerentes da IG são associações formadas por pequenos produtores que seguem, rigorosamente, as recomendações do caderno de especificações técnicas. A IG Sul da Bahia, por exemplo, abrange 15 cooperativas associadas com mais de 4,2 mil produtores de cacau de 13 municípios.


A Associação Sul Bahia (ACSB) também produz seu próprio chocolate com cacau de IG e possui uma marca coletiva criada para verticalizar o modelo de negócio, com baixo custo para o produtor, e qualidade garantida.


De acordo com o diretor executivo da ACSB, Cristiano Sant’Anna, a associação é pioneira na implementação de um sistema de rastreabilidade digital com uso de QR Code nas sacas de cacau com todas as informações sobre o cultivo e manejo. “Isso agiliza muito o fechamento de negócios. Antes disso eram quase dois meses para que o empresário verificasse as amêndoas”, ressalta.


No norte do Espírito Santo, o conhecimento centenário aplicado ao cultivo, aliado ao solo e ao clima contribuiu para que o cacau de Linhares adquirisse o selo de IG em 2012. Desde então a Associação dos Cacauicultores do Espírito Santo (ACAU) faz a manutenção e preservação do regulamento de uso e boas práticas da Indicação de Procedência, que garante a confiabilidade e a origem das amêndoas produzidas sob as especificações técnicas.


Devido ao ciclo de produção, as demandas para a Páscoa chegam com muita antecipação. Além das amêndoas, há também a venda dos nibs de cacau. Os principais clientes são chocolateiros bean to bar, lojas cerealistas e lojas de conveniência.


O produtor Eduardo Zucoloto que comanda a Fazenda Guarani, em Linhares, destaca os diferenciais do cacau IG. “São amêndoas cultivadas com sustentabilidade, manejo e todo cuidado desde a colheita, separação, fermentação, secagem e maturação”, afirma. A produção anual da propriedade é de 1.800 kg.

 

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